Tributo à Mãe Natureza

Tributo à Mãe Natureza
Pelas águas limpamos nossos corpos e nossas almas; com a água, nossos espíritos se nutrem...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Capítulo II (parte 6)

Quando chegou ao escritório de Alceu em busca de uma vaga de atendente, Cláudia não imaginava que sua vida pudesse mudar tão radicalmente. Morando nos confins da Zona Leste de São Paulo – a poucos quilômetros de outro município –, se conseguisse o emprego teria de madrugar para sair de casa, já que pegar ônibus e metrô estava fora de suas cogitações. Economizando o vale-transporte do metrô, que sabia que o advogado daria, pensava utilizar o dinheiro para as compras que fazia no mercadinho perto de sua casa. Mas, acima de tudo, o que pretendia mesmo era usar esse emprego como uma escada, a fim de conseguir “um trouxa pra pagar as contas”.

Assim, foi mesmo de caso pensado que começou a se insinuar para o seu empregador e, em breve, deixou de ser simples atendente para se tornar a secretária do dr. Alceu. Daí, para a cama de motel, não demorou quase nada. E, conseguir que o advogado deixasse a família para ficar com ela, foi mesmo brincadeira de criança, como Cláudia não se cansava de contar para as amigas.

Mas, comparados aos seus 22 anos, os quase 50 anos de Alceu (49, para ser exato) eram demais. O sexo agora tranqüilo, sem os arroubos de paixão dos primeiros tempos, começava a entediá-la. E ao conhecer Cássio, o administrador da Fazenda Pingo de Ouro, sua libido voltou a sinalizar com a necessidade ninfomaníaca que sentia de transar.

Foi por isso que passou a visitar a fazenda cada vez mais assiduamente, com o pretexto de trazer documentos para o rapaz assinar. Na verdade, eram esses encontros (já então sexuais) que lhe permitiam suportar “o água morna do Alceu”, sempre mais e mais irritante.

Cássio, o capataz-administrador, era filho de colonos de uma fazenda e, a duras penas, conseguira terminar o Colegial – caminhava 10 km para ir à escola e mais 10 km para voltar à casa dos pais, todos os dias. O dono da propriedade, reconhecendo os esforços do rapaz, o ajudou a prosseguir nos estudos; assim, ele conseguiu terminar o curso superior de Administração. E, quando Alceu comentou com um cliente (o patrão dos pais de Cássio) que precisava de um empregado de confiança, este lhe indicou o jovem administrador.

Aos 25 anos, cheio de saúde e energia, não foi sem relutância que Cássio cedeu ao assédio constante de Cláudia. Primeiro, foram as roupas sensuais e os olhares provocantes, mesmo quando o advogado estava por perto. Depois, vieram as palavras sussurradas ao pé do ouvido e os toques suaves de suas mãos, que acabaram por enlouquecê-lo e lhe tirar qualquer resquício de razão.

Apesar dos momentos apaixonados que estavam vivendo nos últimos meses, a situação não deixava de atormentá-lo, pois Alceu continuava a tratá-lo com consideração e respeito, sem desconfiar de nada. Contudo, não podia dizer o mesmo dos pais de seu patrão, que lhe lançavam olhares inquisitivos sempre que ele se despedia de Cláudia à porta da casa principal.