Tributo à Mãe Natureza

Tributo à Mãe Natureza
Pelas águas limpamos nossos corpos e nossas almas; com a água, nossos espíritos se nutrem...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Capítulo IV (parte 3)

Com os olhos focados no infinito, Alceu cismava, esquecido do processo que o jovem estagiário havia deixado sobre sua mesa para ser avaliado. Pensava na esposa – considerando que podia chamá-la desse modo, pois o divórcio ainda não fora consumado –, e sentiu saudades.

Todas as tardes, ao chegar em casa, tomava um banho morno a fim de relaxar. Logo a seguir, ia para a sala de tevê, onde Josephine o esperava com um drinque e muito carinho. Sim, pois em tudo que ela lhe fazia havia um toque especial, o cuidado que só se dedica às pessoas que amamos. E ela o amava...

E o que dizer de seus sentimentos? É bem verdade que se entusiasmou com a juventude e beleza de Cláudia, seu interesse por ele, um homem maduro. Mas a ausência de outras qualidades na moça, incluindo a falta de vocabulário para manter uma conversação minimamente inteligente, estava começando a aborrecê-lo.

Passada a animação dos primeiros meses, a convivência com Cláudia estava indo de mal a pior. Sem nenhum preparo para administrar uma casa, ela insistia em continuar trabalhando no escritório, no contato externo com os clientes, deixando a organização do apartamento nas mãos da empregada. E já Alceu acreditava que, se fosse de outro jeito, nem alimentação ou roupa lavada ele teria em casa.

Estranho, mas a verdade é que nunca pensou na nova residência como um lar, sua casa. Guardava esse sentimento para o apartamento agora dividido somente pela mulher e a filha, Cibele. Será que elas sentiam tanto a sua falta como ele a delas?

Quase como respondendo a esses pensamentos, a secretária anunciou a presença de Josephine, que queria lhe falar. Não só pediu que ela entrasse, mas encomendou também café e água para os dois. “Que prazer vê-la aqui, Jô”, recebeu-a à porta de sua sala, sem conter todo seu contentamento. “Há quanto tempo você não nos visita?”, cobrou ele, mostrando um cativante sorriso.

Leda, a recepcionista, que falava com a copa solicitando os cafezinhos, voltou a cabeça em direção ao patrão – e registrou mentalmente a cena, que haveria de reproduzir depois para a amiga Cláudia. “Afinal, se não fosse pela Cláudia, eu não teria conseguido este emprego”, ela lembrou.

Cavalheiro como sempre, Alceu ofereceu o braço à esposa para introduzi-la no escritório e, ao deixá-la próxima ao pequeno sofá onde acomodava os amigos que o visitavam, observou enquanto segurava suas mãos: “Cada dia que passa, você se torna ainda mais bela, minha querida”. E a seguir, com toda a doçura, beijou-lhe as mãos.