Tributo à Mãe Natureza

Tributo à Mãe Natureza
Pelas águas limpamos nossos corpos e nossas almas; com a água, nossos espíritos se nutrem...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Capítulo V (parte 3)

O resultado é que Valéria, depois de vender o que conseguira arrancar de Alfredo, teve de voltar ao seu antigo metiê, pois agora também o executivo estava fora de suas garras. Ela bem que tentou regressar ao apartamento do ex-amante, depois de ser expulsa por Alejandro de sua casa. Mas, liberado do topor que o feitiço lhe havia provocado, senhor novamente de sua vontade, Alfredo nem permitiu que ela ingressasse no prédio onde morava.


De volta às ruas, contudo, a prostituta prometia a si mesmo que ainda se vingaria de Alejandro, pois ele a havia usado e a jogara fora como um trapo. “Ah, ele que me aguarde. O que é dele está bem guardado... eu não vou deixar isso ficar assim.”

Longe dali, na Fazenda Pingo de Ouro, enquanto se secavam ao sol, deitadas em uma grande pedra junto da cachoeira, Cibele e Alice estavam confidenciando, uma à outra, os seus sentimentos mais secretos.

Para Cibele, falar à amiga sobre seu amor por Cássio estava sendo mais fácil do que havia imaginado, pois a certeza do que sentia se acentuara com a convivência dos últimos dias.

Depois que terminava de despachar no escritório, na sede da fazenda, o rapaz ficava algum tempo conversando com as garotas na varanda da casa, onde elas costumavam tomar o lanche da tarde. Em papos sobre assuntos triviais, os três esbanjavam o frescor da juventude, e suas risadas espontâneas e francas podiam ser ouvidas até na cozinha, que ficava do outro lado da casa.

Quando isso acontecia, os avós da garota apenas trocavam olhares sorridentes e cúmplices, uma vez que percebiam no interesse recíproco de Cibele e Cássio a melhor alternativa para evitar a Alceu um grande dissabor. Gostavam do jovem administrador e sabiam que, se havia de fato algo entre ele e Cláudia, a culpa era da amante de seu filho.

Alice, por sua vez, quando falou à amiga sobre o pintor argentino que ela encontrara no Masp e que tão impressionada a deixou, não soube precisar quais eram seus sentimentos com relação ao rapaz. “Ao mesmo tempo em que me senti atraída pelo seu riso fácil, que parecia vir da alma, fiquei aterrorizada com a ironia que ele espelhava nos olhos – parecia estar zombando de todo mundo que estava em volta”, sentenciou.

“Bem, seja lá o que for que esteja sentindo por ele, parece que você só vai sossegar quando falar com o fulaninho, não é mesmo?”, perguntou Cibele, meio que afirmando, já que conhecia bem o temperamento da amiga.

“Como é que você adivinhou?”, falou Alice, ao mesmo tempo que sorria para Cibele, contando ainda que havia descoberto que ele se chamava Alejandro Herrera. “E, no começo do próximo mês, ele estará expondo seus quadros numa galeria da Oscar Freire. Que me diz de irmos à exposição? A irmã da nossa amiga Paula, com quem fui ao Masp, trabalha na Assessoria de Imprensa que presta serviços ao marchand, dono da galeria.”

Rindo do entusiasmo de Alice, que nunca mostrara interesse por nenhum dos rapazes que conheciam, Cibele se comprometeu a estar presente quando a amiga encontrasse o “pintor maldito”, como elas o apelidaram.