Tributo à Mãe Natureza

Tributo à Mãe Natureza
Pelas águas limpamos nossos corpos e nossas almas; com a água, nossos espíritos se nutrem...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A Chance de um Recomeço

Capítulo I

As tristezas que nos invadem o coração, principalmente em certas tardes chuvosas, muitas vezes não têm explicação. Era isso o que estava acontecendo, naquele momento, com Cibele. Filha de pais separados, há meses já se acostumara àquela situação, especialmente depois de ter percebido que todo e qualquer esforço para tentar unir novamente o pai e a mãe resultara em fracasso.

Aos 16 anos de idade, suas preocupações se resumiam aos estudos – o curso de Inglês havia sido uma exigência do pai, que fazia questão de vê-la bem preparada “para a vida e para o competitivo mercado de trabalho”, como sempre frisava; e as aulas do curso Colegial, no Sagrado Coração de Jesus, escola particular das mais tradicionais na capital paulista.

Com o rosto colado na vidraça da janela de seu quarto, ela olhava para a chuva que caía na rua em frente ao edifício onde ocupava, agora apenas com sua mãe, confortável apartamento de três dormitórios enormes, todos suítes, além das espaçosas salas de estar e jantar. O imóvel contava ainda com um pequeno escritório (antes utilizado pelo pai, atualmente quase que só freqüentado por Jurema, a empregada que executava a limpeza da casa) e uma saleta de jogos, transformada pela mãe em sala de música e tevê.

Sua vida transcorria de forma aparentemente tranqüila, e até poderia considerar-se totalmente feliz, se não fosse por um pequeno detalhe... ínfimo, se comparado a todos os bens materiais que possuía e ao conforto de que desfrutava, mas essencial porque deixava um vazio enorme em seu coração: a saudade que sentia de seus avós paternos.

Desde que os pais tinham se separado, as viagens à fazenda de vovô Márcio e vovó Esmeralda haviam se limitado a apenas duas visitas anuais – uma em julho e outra em dezembro –, que não passavam de uma semana em cada período.

Sentia o coração bem apertado ao se lembrar dos abraços carinhosos dos avós toda vez que chegava, e das lágrimas que escorriam pelos rostos enrugados e queimados de sol daquelas duas pessoas que amava tanto, quando chegava a hora da partida.

A restrição aos passeios freqüentes à casa dos ex-sogros partira de Josephine, a mãe de Cibele, após a separação algo tumultuada, que aconteceu depois de a mulher ter descoberto o caso entre Alceu (o ex-marido) e a secretária.

Desde que a conhecera, três anos antes, Josephine não sabia dizer por quê, mas a tal Cláudia não lhe agradara. Não sabia dizer se era pelo seu ar arrogante, ou pelo hábito de olhar para os homens e, quase imperceptivelmente, passar a língua pelos lábios.

Parecia uma devoradora de homens. Não só parecia... afinal, Alceu estava completamente nas mãos de Cláudia – virara um fantoche que fazia tudo o que a amante lhe ordenava.

Por isso, mesmo gostando muito dos pais do ex-marido, preferia limitar os contatos da filha com Alceu, que freqüentemente passava os finais de semana na fazenda – sempre acompanhado por Cláudia.