Tributo à Mãe Natureza

Tributo à Mãe Natureza
Pelas águas limpamos nossos corpos e nossas almas; com a água, nossos espíritos se nutrem...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Capítulo I (parte 3)

Ao contrário de Cibele, que quanto às roupas era uma verdadeira patricinha, Alice tinha um jeito muito particular de se vestir. Herdara da mãe, antiga integrante do movimento hippie dos anos 60, o gosto pelas amplas saias de tecidos diáfanos, que caíam molengas ao longo do corpo, bem como as blusas bordadas com miçangas, vidrilhos e paetês, além de todos os tipos de sianinha, bordado inglês e qualquer enfeite que trouxesse “mais vida” às suas vestes, como não se cansava de dizer.

Invariavelmente, uma sapatilha combinava com a roupa do momento, cheia também de enfeites que a deixavam “com os pés sempre prontos para uma festa”, como bem lembrava uma outra amiga do colégio. Mesmo para ir às aulas, uma vez que há muito o uniforme havia sido abolido para os estudantes do Colegial, Alice marcava presença com seu modo inusitado de se vestir.

Ali, parada à porta do quarto, Alice equilibrava a pilha de CDs enquanto olhava para os lados à procura de um lugar onde pudesse descarregar todo aquele peso. Ela sempre fora mesmo meio exagerada, pensava Cibele, indo em socorro da amiga.

- Que é, tá querendo passar todo o final de semana estudando ou escutando música? Será que você consegue se concentrar mais nos exercícios de Matemática que nos CDs de relaxamento?... Acho que a gente vai acabar mesmo é dormindo... – riu Cibele, enquanto Alice desabava sobre a cama da amiga.

Apesar de aparentemente tão diferentes, as duas tinham muita coisa em comum: além de pais divorciados, suas saídas sozinhas eram bastante controladas pelas mães, que se sentiam muito mais responsáveis pelas filhas devido à ausência dos ex-maridos.

Mesmo tendo vivido boa parte de sua vida em comunidades hippies, Sandra, a mãe de Alice, optara por uma educação mais rígida para a filha, com o objetivo de protegê-la “desse verdadeiro caos em que se transformou o mundo moderno”.

Já Josephine, descendente de uma tradicional família paulistana, os Pires da Mota, trazia do berço os ensinamentos que sempre pautaram sua vida: a mulher tem de ser educada para se tornar uma filha obediente, uma esposa prendada e uma mãe devotada. Fora isso, era a libertinagem imperando e fazendo sofrer aquelas que ousassem transgredir as leis religiosas e sociais que regiam seu mundo.

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